sábado, 12 de abril de 2008

Tudo acaba mas o amor persiste...

"Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...E ter paciência para que a vida faça o resto"...
Na última postagem a querida vovó Rô postou um comentário lindo onde dizia que eu amava demais... fiquei muito emocionada com as palavras carinhosas dela, e fiquei pensando neste "amar demais", realmente me apego muito e amo sem pedir nada em troca, isso me fez lembrar de Fernandinha, já postei antes uma foto dela, fofa, aborrescente de 11 anos teve Leucemia, ficou comigo 1 ano, me chamava de Claudinha Leite, me apeguei muito a ela e a sua mãe que no meio da luta ficou grávida, Nanda fez Quimioterapia, todo o tratamento que Luís já fez, mas pra ela parece ter sido muito mais difícil, talvez pela idade, imaginem nossa luta pra preparar uma menina de 11 anos pra perda de cabelos...quando começou a cair ela mal saía do apartamento, lembro que levei um boné pra ela rosa da Rebelde, passava a novela na época e ela era muito fã, para entretê-la e divertí-la colava sempre adesivos nos curativos dela, então depois do banho ela já esperava minha entrada: mascarada, de avental, luvas, com uma cartela de adesivos diferente pra ela escolher qual queria naquele dia, lembro também que dos curativos que eu trocava ela tirava os adesivos e colava na mesa de cabeceira, que aos poucos foi ficando toda colorida, essa história é comprida e tem final triste, ainda me emociono quando lembro dela, de Gilda sua mãe, da irmã, que não foi compatível pra doação de medula, Nanda tinha chances, mas não resistiu, crianças com leucemia são muito propensas a infecção e foi assim que ela se foi... foi a segunda criança que perdi...chorei muito trancada no banheiro do hospital, a tarde uma colega cobriu meu setor e eu fui me despedir, meu marido foi comigo, o cemitério fica em frente ao hospital, então sinto que ela ainda tá ali, muitas vezes em plantões noturnos quando tudo se acalma ,fico olhando pela janela do hospital e conversando com ela... nunca mais vi Gilda, mas sempre me manda notícias por uma amiga dela, que leva fotos do irmãozinho de Fernanda que tinha dias quando ela se foi... a mãe ainda não se sente bem em voltar naquele ambiente onde tudo se passou, e eu confesso que quando entro no apto 512 ainda sinto o cheiro de Nanda...
Quando a vovó Rô falou de amor lembrei dessa passagem da minha vida, onde vivi e vi muito amor de formas tão diferentes, o amor da mãe pela filha, o da equipe pela criança, sua irmã e sua vó, a gravidez e a esperança de salvar a filha com a nova vida que viria, a decepção da irmã ao saber que não poderia doar medula pra Nanda, o meu amor intenso por alguém desconhecido que de uma hora pra outra me preencheu, amor este que gerou revolta no momento da despedida, nunca aceitarei perder uma criança, mas uma paciente, também especial, D. Célia uma vez me disse que pessoas boas voltam logo pro lado do PAI, acredito que Fernanda tenha sido uma provação na minha vida, algo intenso que eu tive que viver no início da minha profissão pra ganhar forças e continuar ajudando os outros, sei lá nada tem explicação, mas que o Moço lá de cima vai com minha cara isso eu sei, por que ele coloca muita gente boa no meu caminho... e eu só peço a ele a todo momento que entro no Hospital que me dê um bom plantão e muito amor pra doar.


"Perguntei a um sábio ,a diferença que havia
entre amor e amizade,ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas ,a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,na Amizade compreensão.
O Amor é plantado e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida companheira.
Mas quando o Amor é sincero ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo ou uma grande paixão,ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração"

4 comentários:

Dulce Miller disse...

Oi, Paola!
Eu também vivi algumas histórias parecidas na época em que trabalhei no hospital. Coisas que ficarão para sempre, gravadas na memória do coração e que servem como aprendizado e evolução.

Que você tenha uma ótima semana!

Beijos

Aparecido José (Crazyseawolf) disse...

Paola, obrigado pela visita.

Pelo pouco que já pude ler, sei que você possui um enorme coração, cheio de amor e muita bondade. Você ama o que faz e isso é muito lindo!!!

Beijos!!!

disse...

Olá minha querida Paola!

Cada vez que por aqui venho me emociona com suas palavras, são testemunho de vida, que muitas vezes me considero tão pequenina por nada poder fazer, e o que faço me parece tão pouco. Mas de pouco em pouco vencemos grandes batalhas.

Oro por você sempre. para que Deus te sabedoria para poder continuar esse trabalho tão divino.

Minha linda fique com Deus e tenha um final de semana cheio, repleto de todas as graças do Senhor!

Dê um beijinho em cada um dos seus anjinhos e diga-lhes que eu os amo e oro muito para que eles se recuperem e sempre seja feita a vontade do Senhor!

Um especial no Luis...
O fofo que dá até vontade de morder essas buchechas tão gostosas...

Lorena disse...

Eu chorei lágrimas de verdade ao ler a história dessa criaça... As vezes acho tão injusto que elas tenham que ir tão novas, com tanta coisa pela frente... Mas o Pai sabe o que faz, eu confio nEle, e se alguém assim entra na sua vida, pra ir embora tão rápido, é porque é como as estrelas cadentes: te concedem um desejo (seja de amor, seja de solidariedade, seja de aprendizado) e vão embora...

Eu adoro seu blog. Sempre me emociono com suas histórias e fico me perguntando porque cargas d'água eu nunca quis ser enfermeira ou médica, porque acho a vida no Hospital mágica (é sério mesmo). Mas acho que não teria a força de vocês para lidar com essas situações, deve ser por isso...

Um abraço forte.